A Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude aconteceu na cidade de Crato, no Ceará, entre os dias 22 e 29 de janeiro de 2017. Eram mais de 100 participantes diretos e alguns outros convidados (eu inclusive), fora as tantas equipes de trabalho. Para quem não sabe do que se trata, uma Ampliada Nacional é internamente o maior espaço deliberativo desta pastoral e também o momento para se pensar a indicação dos passos a serem seguidos nos próximos anos pela Pastoral da Juventude.
Muitas coisas me marcaram nesta atividade. A maior parte delas positivamente. E por todas elas, todas mesmo, eu enxergo uma série de possibilidades pastorais para a PJ nos próximos anos. Mas creio que antes de se entender o que me leva a crer nas alternativas futuras, é bom olhar os fatos que antecederam esta ampliada para poder compreender o que de mais significativo ocorreu por lá, para daí sim tentar perceber o olhar que faço para daqui por diante.
Salgado, em 2005, Palmas, em 2008, Imperatriz, em 2011 e Belo Horizonte em 2014 foram as cidades que receberam as últimas ampliadas nacionais. Todas elas carregam uma marca significativa: a criação e organização em torno de projetos nacionais para a ação pastoral. Era previsto que esta ampliada fizesse a revisão deste caminhar.
Salgado pensou os cinco primeiros projetos nacionais: A juventude quer viver, Caminhos de esperança, Mística e Construção, Teias da Comunicação e Ajuri. A Campanha Nacional contra o extermínio de jovens, uma das bandeiras do projeto A Juventude quer Viver, veio surgindo na preparação para a 15ª Assembleia da PJB, em meados de 2008 e se estendeu até 2016.
Quando se olha para Palmas, as marcas podem estar nas prioridades estabelecidas: os grupos de jovens e missionariedade. Mas ali foram lançadas as sementes para que fosse escrito o material "Pastoral da Juventude um jeito de ser e fazer". Fora isso, um dos gritos da ampliada foi a discussão de gênero, que não gera uma ação propriamente ali, mas culmina na criação no projeto Tecendo Relações na ampliada de Imperatriz
E por falar em Imperatriz, não podemos nos esquecer do Somos Igreja Jovem. Pessoalmente nunca vi material mais bonito e com tantas informações necessárias. Hoje ainda muita gente o usa como síntese da nossa identidade pastoral. No entanto, é necessário, sempre, revisitá-lo e atualizá-lo se quisermos utilizá-lo realmente com esse fim, pois os tempos e as necessidades mudam
Outro fato marcante se deu oficialmente no Encontro Nacional da PJ, ocorrido em 2015 em Manaus. Dentre tantas coisas bonitas deste encontro, as jovens pejoteiras se reuniram e falaram de um assunto incômodo dentro da Pastoral: o machismo. E puderam também conversar a respeito das alternativas para se superar este problema.
O olhar e a presença feminina não é fato novo na PJ. Em Imperatriz, a iluminação bíblica vinha do grito de umas das mais fortes figuras femininas descritas, Ester: “O meu desejo é a vida do meu povo.” (Es 7, 3). Quando olhamos para o Conselho Nacional de Juventude, a primeira presidente vinda da sociedade civil foi Elen Linth, que foi secretária nacional da PJ.
Outras duas marcas da Ampliada de Crato em toda a sua preparação foram o jogo de palavras com a expressão SerTão PJ e o indicativo bíblico a respeito do pedido de Jesus ressuscitado às mulheres que foram ao seu túmulo no domingo de Páscoa: "Então Jesus disse a elas: «Não tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão". (Mateus 28,10).
Ao dizer SerTão PJ, o jogo de palavras faz referência indireta à questão da Identidade Pastoral. Nós somos Pastoral da Juventude, mas não é algo superficial. Somos profundamente, em todas as consequências, somos e queremos ser mais, entender mais, viver mais. Por isso somos "muito" PJ, por isso somos tão PJ, e por isso queremos continuar a ser tão PJ. A referência direta, no entanto, faz ligação ao lugar sagrado onde nos reunimos. Não estamos em qualquer lugar. Estamos no sertão do Cariri, perto das terras onde viveu o Padre Cícero, no sul do Ceará. Terra de gente que vive com comprometimento a sua fé e que também tem uma vida dura, marcada pela dependência das mudanças climáticas. Terra de gente, antes de tudo como dizia Euclides da Cunha, gente forte, marcada pela identidade e austeridade no viver.
Fisicamente a terra onde pisávamos era um local referencial pelos tantos motivos já expostos, mas também nos trazia o referencial bíblico deste momento. Ali era feito o pedido para irmos às Galileias, onde encontraríamos o Senhor ressuscitado. Que Galileias seriam essas para a PJ? Onde encontraríamos Jesus hoje? Como Ele mesmo disse em Mateus 25, 31-46, em especial nos versículos de 37 a 40:
Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’
As Galileias juvenis são os lugares onde a juventude sofre riscos iminentes, sejam aqueles(as) dos povos tradicionais, quem vive do e no campo, as jovens mulheres marginalizadas, aqueles e aquelas que sofrem com sua orientação sexual e gênero, quem está em situação de rua, aqueles(as) que sentem os efeitos de uma má educação e/ou das diversas situações do mundo do trabalho, da drogadição, o conflito com a lei, o encarceramento, bem como a realidade do genocídio da juventude, migrantes e refugiados e tantas outras Galileias.
Por fim, para se fechar o entendimento de tudo que antecedeu esta ampliada, é necessário falar da mística. Não se deseja falar do sertão ou das Galileias como lugar de sofrimento como o senso comum costuma apontar. A realidade cercada de dor precisa ser revirada, precisa ser cuidada, precisa ser transformada, passar por uma metamorfose. A estes atos pode-se dar o nome de esperança ativa. Este foi o mote de todas as celebrações. Não tiramos o pé da realidade, mas queremos ver esta realidade florescer. A marca da flor foi uma das identidades visuais e afetivas que antecederam e que vivenciamos nesta ampliada.
Estas foram as ideias gerais que se tornaram o terreno onde a Ampliada de Crato foi plantada. Na próxima postagem (clique aqui para ler) a ideia é tratar a respeito da Ampliada em si e das possibilidades que ela aponta.
Rogerio que bela postagem, me fez voltar em Crato naquele sertão gostoso com cheiro bom de jovem na busca de suas respostas..... ansioso já pra ler a próxima.
ResponderExcluirAbraços...