Conhecer
alguém é sempre um risco (ou vários). Risco de gostar dessa pessoa, risco de
querer saber mais de sua vida, seus gostos e sua história. Claro que há quem já
tenha vivenciado o tal do amor à primeira vista, mas isso, nem sempre isso é
imediato. Na via das paixões, a grande tendência é que, convivendo, a gente perceba
aqui e ali algumas características que vão criando os tais encantamentos.
Sim,
isso acontece de pessoas com pessoas. Mas também acontece de pessoas com ideias
e de pessoas com propostas. Claro. Da imensa multidão de pessoas que você
conhece, não é por todas que você se apaixona. Da mesma forma, há uma
quantidade imensa de proposições, ideologias, linhas de pensamentos, religiões,
filosofias, modos de vida que você também não abraça.
Quero
crer, no entanto, que, da mesma maneira que há aquela pessoa que mexeu, mexe ou
um dia mexerá com seu coração de uma maneira diferente, também há no mundo das
ideias e propostas aquelas as quais você dará maior atenção e que guiarão seu
modo de vida ou moldarão sua maneira de ser.
Amor
e paixão são assuntos empolgantes, mas delicados. A gente corre o risco (olha
aqui ele de novo) de perder a racionalidade. Falar mal do time do coração, da
religião que se professa, da pessoa amada, do partido ao qual se é filiado, do
modus operandi dessa ou daquela instituição que se admira, é um campo fértil
para a discussão e a intolerância. Diariamente eu vejo isso nas redes sociais.
Mas
não há escapatória. O método dialético, descrito de forma simples, aponta que
nenhuma síntese, nenhum novo modelo, pode aparecer se não for confrontada a
tese (ou a situação atual), com sua antítese. Pelo modo racional e rasteiro de
dizer, deixar de discutir com alguém (antítese) porque ela não vai mudar de
opinião (tese) é acreditar que não vale a pena achar alternativas (síntese).
Num
mundo onde o fanatismo tem crescido, de fato, esta tarefa dialética tem se
mostrado cada vez mais difícil. Pessoalmente acho o confronto pouco produtivo.
As pessoas estão armadas, cercadas, bloqueadas contra o confronto. Os tais
muros estão cada vez mais sólidos e fortificados. Bater de frente não é uma boa
alternativa.
Se
confrontar não é uma boa, talvez uma alternativa mais favorável fosse resgatar.
Resgatar a história. Entender porque se chegou àquele momento, daquela maneira.
Compreender em que ponto ou em que curva não se pôde mais voltar atrás ou achar
um novo caminho. Pessoalmente creio que a contraposição histórica e
fundamentada tem dado melhores resultados que a pura argumentação.
Eu
tenho para mim que na PJ procuramos fazer isso e que talvez por essa razão
nosso povo não seja tão fanático como alguns por aí nos pintam. Claro que às
vezes a gente erra, esquece-se de olhar o passado e fica fascinado pelo futuro
que se pode construir. Claro que frequentemente a gente bate de frente com
pessoas carregadas de argumentos pouco sólidos, mas que construíram para si um
muro resistente a este tipo de argumentação.
Desde
a Ampliada de Crato eu venho pensando nisso. Na necessidade de olharmos,
entendermos e refletirmos nossa história, nossas opções e de por que aqui ou
ali houve uma curva, um recuo. Pensar nisso também é um risco, porque a
interpretação histórica é sempre um ponto de vista a partir do lugar de quem a
escreveu ou a defende. E, nos tempos em que vivemos, apresentar um ponto de
vista é abrir o processo, não para o debate, mas para o enfrentamento.
Resolvi
então resgatar alguns livros que tenho em casa. Quis tentar juntar o meu olhar
ao de tantos outros que escreveram a história antes de nós. Quis também ampliar
o meu horizonte. Já falo de história pastoral há algum tempo. Mas quis entender
de onde estas outras pessoas escreviam, para quem e por que deixaram seus
pontos de vista.
A
PJ, tal qual a pessoa pela qual a gente se apaixona, vai nos conquistando pelo
processo, pela aproximação, pelo cotidiano, pelas opções. Quem se abre para a
experiência, encara o risco de encontrar um propósito pelo qual valha a pena
dedicar a vida. E o melhor: ela nos faz enamoradas/dos não de si, porque ela
não anuncia a si própria, mas de um jeito de viver a proposta de Jesus.
Foi
buscando porque somos o que somos e temos o jeito que temos que, como coloquei
acima, vasculhei alguns dos livros de casa. Um deles me deu a chave. O livro “O
Caminho se faz”, do padre Hilário Dick diz logo pela metade do seu primeiro
capítulo que a Pastoral da Juventude do Brasil herdou 10 características de um
modelo de organização chamado Ação Católica.
Ação
Católica. A gente sempre fala dela quando o assunto é a História da PJ. Mas creio
que vasculhar um pouco as suas motivações, história, apogeu, método e processo
deve nos ajudar a entender também e a realizar um pouco do nosso próprio
resgate, para que não caiamos nas armadilhas históricas e que saibamos nos
resguardar dos fundamentalismos. Compreender melhor tudo isso é assumir o risco
de reinterpretar ou reassumir o que somos, mas também de nos apaixonarmos mais
pela proposta.
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Porque nesse texto há uma comemoração implícita pelos 7 anos do blog.