sábado, 11 de junho de 2011

O papel das representações

Sim, há quem diga que o grande problema da pastoral da juventude hoje é a pouca atenção que se dá aos grupos de base. Imagino que esta não seja uma realidade em todo canto. Mas já ouvi isto de bocas diversas e li isto vindo de e-mails e chat’s diferentes também. Penso que os grupos de jovens são uma das prioridades sim e não se deve esquecer deles em nossos planejamentos pastorais. Já comentei sobre isto recentemente no artigo “Há que se cuidar do broto”. Contudo creio que existam outros itens a serem considerados.

Uma amiga me disse outro dia que o problema é que os jovens dos grupos vão para as “instâncias” e esquecem da base. Digo que isto pode acontecer e que já vi com mais de um representante. E também já vi o contrário, gente muito comprometida com os grupos, como também presenciei momentos de falta de preocupação com as bases de gente séria e responsável. Ou seja, neste universo que é a representação de instâncias e na nossa organização pastoral nos diversos níveis, há de tudo.

Por “instâncias”, quero dizer desde a paróquia, onde o grupo de jovens vai se fazer representado, até a coordenação nacional da PJ. Por incrível que pareça, há perfis de representações que se repetem nestes níveis. Como entender que papéis existem e como trabalhar com eles? Não é minha intenção falar de todos os perfis, mas contribuir com algumas reflexões. Vamos a elas.

O representante “passa recado”: É preciso entender que a instância (paróquia, setor, diocese, regional, nacional, por exemplo) é uma coordenação. E mesmo que exista a figura do coordenador daquele grupo, o representante não está lá simplesmente para passar o recado da sua base para os demais companheiros e nem só de retornar para sua origem com os informes daquela instância. Ele é também coordenador. Tem a responsabilidade de conduzir os trabalhos específicos daquela instância. Numa diocese, se ele é representante de uma paróquia, ele é tão responsável pela articulação dos grupos de outras comunidades que estão com o trabalho fraco quanto o representante das mesmas. Se ele não aprendeu isto antes, é preciso ir explicando durante o processo.

O representante “presidente”: Existe, por outro lado, o sujeito que acha que instâncias pastorais são como escadas de mão única: só subindo. O que esta pessoa quer é aparecer. “Subir graus de representação” significa um status maior. Contudo, nem todos eles são ruins. Alguns são excelentes articuladores e/ou motivadores. Para outros, entretanto, o negócio é só holofotes e glamour. O que se faz com um representante com estas características? O que eu já vi de pessoas assim é que eles respeitam bem que está “acima” deles, seja um padre, assessor ou alguém de outra instância além daquela que ele está. Numa conversa e num acompanhamento pessoal são estas pessoas que conseguiriam um melhor resultado. É preciso que ele entenda que representação não é poder. É serviço. E muito serviço.

O representante “só sobrou você”: Já vi situações em que a localidade não tinha ninguém bem capacitado para mandar como representante seja porque a maioria do grupo era formada de iniciantes ou porque quem poderia ir estava sobrecarregado de serviços. Isto é muito comum acontecer. Aponta que não estamos acompanhando adequadamente nossas coordenações (seja na capacitação ou na fomentação de novas lideranças). O sujeito que ficou com a “batata quente” da representação acaba se capacitando no processo e quando está “no ponto”, termina o tempo de serviço nesta instância. E é importante que acabe mesmo. Ninguém pode ser representante para sempre, como veremos abaixo.

O representante “o que estou fazendo aqui”: Este é uma variação do representante “só sobrou você”. É o sujeito que diante do “problema” que lhe caiu no colo se sente totalmente deslocado na nova instância e não sabe o que fazer e não se sente à vontade no novo grupo. Embora a novidade da instância seja algo que, a princípio, assuste a maioria, é preciso lembrar da importância do acolhimento do grupo para com esta pessoa. E cabe também uma reflexão importante para o devido acompanhamento da instância que indicou este representante: se estamos tão carentes de lideranças, o que se poderia fazer para reverter isto?

O representante de si mesmo: Há instâncias que praticamente “faliram”, fracassaram no seu objetivo pastoral. Mas para manter a estrutura organizativa em pé, pessoas que não representam mais ninguém acabam indo fazer parte da instância maior. Infelizmente isto é até comum. Há duas alternativas que eu vejo aqui: ou se mantém o representante como um incentivador da realidade pouco articulada ou não se aceita a representatividade vazia e a equipe se compromete em reanimar a localidade desarticulada. No meu modo de ver, isto depende do perfil deste representante e da capacidade do grupo em assumir seus compromissos.

O representante eterno: Representações não são para um longo período. Tem que estar delimitado. Não queremos pequenos reinados nas coordenações. É um princípio básico da Pastoral da Juventude. Um bom coordenador é aquele que prepara outra pessoa bem capacitada para ficar em seu lugar. Não se é jovem para sempre. Situações assim têm que ser cortadas. Por melhor que seja a pessoa, é preciso um tempo delimitado para ela. Isto é importante para a pessoa e seu projeto de vida e rico para a Pastoral que vê aí a importância de sempre termos novas lideranças.

E, se vale como observação, digo que há muito da característica pessoal nos papéis de representação. Eu já passei por “instâncias” diversas e sei que dei algumas mancadas. É preciso que quem esteja neste papel saiba da sua importância dentro da missão pastoral. E que não se esqueça que o trabalho é feito em grupo e que neste grupo, embora todos sejam diferentes, somos todos companheiros.

5 comentários:

  1. Fabricio Elias - Vitória / ES12 de junho de 2011 às 23:51

    E como sempre, seus textos conseguem se superar!!!
    Eu tenho alguns do Boran que abordam o mesmo assunto, mas esse seu foi muito mais ao cerne da questão.
    Obrigado pelo texto maravilhoso e continue sempre assim, com esse ótimo trabalho

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  2. Ro! que delicia ler esse texto!

    Pra mim foi bem assessoria: "Rafa, cuidado com isso... Rafa, olha... cuidado com aquilo....!"

    Ao ler fiquei esperando e curioso para refletir contigo o como ser um bom representante....Senti falta disso... Continua no próximo? rs

    abração!

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  3. Esse assessor é sempre provocativo nos seus textos...Gostei muito !!!

    A juventude agradece pelos bons textos, eu sempre leio..

    Bjs,
    Roberta

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  4. Oi Fabricio. Obrigado pelas palavras. Ter um texto comparado aos do Pe. Jorge Boran é uma honra que não tem tamanho. Aprendi muito lendo os livros dele. Valeu!!
    Rafa, tudo são possibilidades, meu caro... mas adianto que não verás esta "segunda parte" tão logo... Tenho algumas ideias já engatilhadas.
    Roberta, apareça sempre. Você sabe que é sempre bem vinda!!!
    Isto tudo só anima a continuar escrevendo!

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  5. Lidiane - Artur Nogueira - Diocese de Limeira22 de julho de 2011 às 09:27

    Parabéns pelo texto Rogério!
    Muito bom! Obrigada pela partilha neste texto.

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